terça-feira, 11 de novembro de 2008

'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'

Olá Caros,
Recebi um daqueles e-mails que realmente puxam a sua atenção para algo que mexe na ferida de muita gente.
Vale a pena ler com atenção!

'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.
Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:
'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',diz. Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e das humilhações diárias, segundo o psicólogo, são acolhedores com quem os enxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.

Diário - Como é que você teve essa idéia?
Fernando Braga da Costa - Meu orientador desde a graduação, o professor José Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma das provas de avaliação, que a gente se engajasse numa tarefa proletária. Uma forma de atividade profissional que não exigisse qualificação técnica nem acadêmica. Então, basicamente, profissões das classes pobres.

Diário - Com que objetivo?
A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição de trabalho deles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ou seja, estudar a condição moral e psicológica a qual eles estão sujeitos dentro da sociedade. Outro nível de investigação, que vai ser priorizado agora no doutorado, é analisar e verificar as barreiras e as aberturas que se operam no encontro do psicólogo social com os garis.

Diário - Que barreiras são essas, que aberturas são essas, e como se dá a aproximação? Quando você começou a trabalhar, os garis notaram que se tratava de um estudante fazendo pesquisa?
Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal. Chegando lá eu tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionário, recém-contratado pela USP pra varrer rua com eles. Mas os garis sacaram logo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisa típica dos garis: são pessoas vindas do Nordeste, negros ou mulato sem geral. Eu sou branquelo, mas isso talvez não seja o diferencial,porque muitos garis ali são brancos também. Você tem uma série de fatores que são ainda mais determinantes, como a maneira de falarmos, o modo de a gente olhar ou de posicionar o nosso corpo, a maneira como gesticulamos.. Os garis conseguem definir essa diferenças com algumas frases que são simplesmente formidáveis.

Diário - Dê um exemplo.
Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com um dos garis.De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade,subindo a rua a pé, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mão.O sujeito passou pela gente e não nos cumprimentou, o que é comum nessas situações. O gari, sem se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pra mim e começou a falar: 'É Fernando, quando o sujeito vem andando você logo sabe se o cabra é do dinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não faz barulho. Já o pessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. E quando a gente está esperando o trem logo percebe também: o peão fica todo encolhidinho olhando pra baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cima de toda a peãozada, segurando a pastinha na mão'.

Diário - Quanto tempo depois eles falaram sobre essa percepção de que você era diferente?
Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro dia de trabalho já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era um gari.Fui tratado de uma forma completamente diferente. Os garis são carregados na caçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossem ferramentas também. Eles não deixaram eu viajar na caçamba,quiseram que eu fosse na cabine. Tive de insistir muito para poder viajar com eles na caçamba. Chegando no lugar de trabalho, continuaram me tratando diferente.As vassouras eram todas muito velhas. A única vassoura nova já estava reservada para mim. Não me deixaram usar a pá e a enxada, porque era um serviço mais pesado. Eles fizeram questão de que eu trabalhasse só com a vassoura e, mesmo assim, num lugar mais limpinho, e isso tudo foi dando a dimensão de que os garis sabiam que eu não tinha a mesma origem socioeconômica deles.

Diário - Quer dizer que eles se diminuíram com a sua presença?
Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.

Diário - Eles testaram você?
No primeiro dia de trabalho paramos pro café.. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

Diário - O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

Diário - E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

Diário - E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicosocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses Homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.

***


A falta de Humildade impressiona e isso não acontece somente com garis....

Educação, esse é o pior problema do nosso país, vivo batendo nessa tecla!

Espero que tenham gostado, Abraços!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Coitadinho do Brasileiro...

As vezes fico pensando deitado na cama antes de dormir, como o brasileiro adora se achar o injustiçado, o abandonado, o arruinado, alvo de complô e desprezos pelo mundo todo.
O GP do Brasil de Formula 1 neste último Domingo provocou essa semana mais uma novelinha do gênero "Coitadinho".

A corrida decidia o título do campeonato, vamos relembrar:
“A vitória foi do brasileiro Felipe Massa no GP do Brasil de Fórmula 1, mas o inglês Lewis Hamilton ficou com o título da temporada. Apesar de serem os personagens principais da tarde, a chuva e o alemão Sebastian Vettel trataram de roubar a cena nas últimas voltas, deixando o inglês em situação delicada e quase perdendo o título.
Apesar disso, Hamilton conseguiu terminar em quinto lugar e confirmar a conquistar o Mundial com apenas um ponto a mais que o brasileiro (98 a 97). A emoção cresceu nas últimas seis voltas com o reinício da chuva, forçando as equipes a trocarem seus pneus para pista molhada.
Vettel, que já estava pressionando pela posição de Hamilton conseguiu ultrapassar, exemplo seguido por seu compatriota Timo Glock. Faltando quatro curvas para o final da prova, Hamilton estava em sexto, o que daria o título a Massa, mas Glock não conseguiu manter o ritmo (porque ainda andava com pneus para pista seca) e acabou cedendo o posto para o inglês que faturou o título do ano.” – Fonte: Gazeta Esportiva. NET

Pronto, se você não assistiu a corrida já deve imaginar o que 90% do público brasileiro achou de tudo isso:
“ - Sacanagem, o Glock fez de propósito só para o Felipe não ganhar o título!”
“ - É, fizeram isso porque era um brasileiro que iria ganhar o mundial!”
Meu Deus, já estou com vontade de chorar, vou lá pegar uma toalha, pois um lenço não é o bastante para conter as minhas lágrimas. Desde quando o Rubens Barrichello estava na Ferrari, já se ouvia muito chororô e põe choro nisso, até porque além das lamentações vinham críticas injustas ao piloto. Deduções ignorantes, ou seja, comentários do tipo: Viajando na Maionese.

E as críticas foram tantas que mancharam a carreira de um dos maiores pilotos de Formula – 1 de todos os tempos, para mim depois de Ayrton Senna o melhor piloto brasileiro que acompanhei na F1 nesses meus 23 anos de idade.

O fato é:
Vício que o povo brasileiro tem de se achar o menininho coitado, o mocinho, e o resto do mundo os vilões?
Uma cultura passada por gerações, costume pensar desta maneira ou alguma influencia da mídia que faz nós pensarmos com essa mágoa no coração?
Tem gente ainda que diz: Deus é Brasileiro, no entanto vive dizendo que o mundo inteiro quer passar a perna no Brasil.

Acho que um dos maiores problemas do nosso país começa pela cabeça do povo.
Temos que parar de agir e pensar pequeno, achar que sempre estamos a perder, que o Brasileiro nunca sai vitorioso em nada e todos estão contra nós.
Parece que a auto-estima esta bem abaixo para um país que sonha em ser um dia 1° mundo.

No caso da Formula 1, você sabia quanto o Rubinho ganhava de salário pilotando um carro da equipe italiana ou quanto vale um carro de Formula 1?
Rubens Barrichello ganhava em média US$ 5,5 milhões – coitado, pouquinho né?
Não quero entrar no assunto mas era méritos do Rubinho vestir o macacão vermelho da Ferrari ou a equipe queria mesmo é tirar um sarro da cara dele e da nossa fazendo de tudo para ele não ser campeão?
É uma conclusão sem fundamento, sem sentido nenhum, como disse um jornalista da TV ESPN BRASIL (Mauro Cézar Pereira): "Nava haver uma coisa com a outra!"
As pessoas são bem radicais e mal informadas para fazer análises precipitadas e achar que é aquilo pronto e acabou.

Ouvi uns três comentaristas esportivos esta semana dizendo que ao final da corrida em Interlagos, a torcida que ficou na reta da largada (aqueles que pagam o chamado paddock’s), vaiaram e disseram barbáries para o piloto alemão Timo Glock como se o cara fosse o vilão de tudo isso. Que vergonha, veja que não era o povão, o público que freqüenta o paddock tendo acesso aos boxes, tiram do bolso cerca de 2 mil a 5 mil reais pelo ingresso. Isso mesmo.

Prova que a ignorância esta em todo canto.
Abro ontem o jornal Lance e uma pesquisa mostrava que 52% dos leitores acreditaram que o piloto alemão tirou o pé do acelerador para o Hamilton ser campeão! Ai Meu Deus...coitadinho do Massa! Quanta Babaquice!

E vamos continuar chorando porque coitadinho somos nós!