sábado, 12 de abril de 2008

E Se não foi ele?

Por Daniel Thame em 8/4/2008 - Matéria publicada no site Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=480JDB005)

"Alexandre Nardoni é um homem acabado.
Desde que foi acusado de ter jogado sua filha, Isabella Nardoni, de 5 anos, do 6º andar de um prédio num bairro de classe média em São Paulo, Alexandre recebeu o veredicto definitivo de "culpado". A madrasta, Ana Carolina, igualmente acusada pela morte da menina, vive situação idêntica.
Ambos alegam inocência, mas o circo armado pela mídia em torno do caso, com a inestimável contribuição da polícia, fez com que Alexandre e Ana Carolina fossem lançados à fogueira da inquisição. As redes de televisão e emissoras de rádio fazem plantões na porta da delegacia e na entrada do prédio onde aconteceu a tragédia. Os jornais estampam manchetes retumbantes. Vizinhos, que não querem se identificar, dão declarações que incriminam ainda mais o casal.
Pelo menos até agora, não se produziu uma mísera prova concreta contra o pai e a madrasta de Isabella.
E precisa?
Numa carta emocionada, Alexandre reafirma a sua inocência e a da companheira e diz que "o sofrimento é muito grande, os culpados serão encontrados" e que "a menina era minha princesa, quando me dei conta do que havia ocorrido, meu mundo acabou".
E mais: "Não faria isso com ninguém, muito menos com minha filha. Amo Isabella incondicionalmente e prometi a ela, em frente ao seu caixão, que, enquanto vivo, não sossego enquanto não encontrar esse monstro. Tiraram a vida da minha princesa de uma maneira trágica e não me permitem sentir falta dela, pois me condenam por algo que não fiz."
Se Alexandre matou mesmo a filha e ainda conseguiu produzir uma peça de tamanho cinismo, trata-se de um facínora animalesco, que deve ser exemplarmente punido.


A inquisição midiática
Mas, e se não foi ele? Esta é a pergunta tentadora.
Trata-se de um crime bárbaro, brutal, que além de uma menina morta brutalmente pode estar produzindo outras vítimas, assassinadas em vida. É inacreditável como, em nome da sociedade-espetáculo, parte da mídia subverte a lógica de que até prova em contrário, todos são inocentes. Não hesita em condenar pessoas ainda na condição de suspeitas.
O célebre caso da Escola de Base, em São Paulo, é uma lição solenemente ignorada. O que são algumas vidas quando se luta pela maior audiência, pela maior tiragem?
O respeitável (?) público quer sangue? Então, que se atire carne humana aos leões.
Admita-se a hipótese, diante de tantas evidências (que ainda não se converteram em prova, repita-se) de que Alexandre e/ou Ana Carolina sejam culpados pela morte de Isabella.
Ambos estão com prisão preventiva decretada e até agora são os principais (ou melhor, os únicos) suspeitos. Ainda assim, nada elimina os excessos que foram e estão sendo cometidos para manter as labaredas acesas e prolongar ao máximo a superexposição da tragédia.
Alexandre termina sua carta com a frase "a verdade sempre prevalecerá".
Quando ela prevalecer, saberemos se essa é a história de um pai falsamente amoroso que escondia um monstro dentro de si.
Ou a história, tantas vezes repetida, de inocentes da santa inquisição midiática em que, quando a verdade aparece, só existem as cinzas das reputações e vidas lançadas ao vento".


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- Daniel Thame redigiu em seu artigo tudo aquilo que também acredito e penso as vezes quando vejo este caso na Televisão. Esse espetáculo que todos os veículos de mídia estão criando pode ser algo que daqui uns cinco anos nós não iremos recordar, no entanto se for confirmada a inocência do pai de Isabella, com certeza é algo que destrói a vida de qualquer pessoa julgada impiedosamente sem provas.

Tenho dito, que este caso resolva o mais rápido e que possamos dar mais atenção as besteiras que os políticos cometem no senado, mais respaldo a crise da dengue e tantos outros assuntos que merecem um verdadeiro Show de cobertura jornalística!



Um grande Abraço!

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem observado. Acho que esse ponto é algo que ninguém (mídia) gosta de enfatizar. Essa chamada "mídia sangrenta" adora esse sensacionalismo, que atrai mais e mais telespectador. A muito tempo que eu nem assisto mais televisão aberto, por seu conteúdo ser uma "buesta" (como diria nossos hermanos,rs), e após este caso da Isabela, ficou pior ainda. A mídia inteira quer se transformar em um inquérito extrajudicial, mas esquecendo de fazer perícias e colher provas (que é exatamente o que faz um inquérito policial) e só mandando notícias de que supostamente, aquele é o assassino, fazendo assim sua mídia sangrenta. E se não foi o pai? e se foi eu? e se foi o papa? e se foi o lula? E a mãe dela, como que ela pode chorar no enterro da propria filha, se tem 500 microfones em sua frente, ela nem pensar pode. Ahhh mídia sangrente, que coisa. Qua tal boicotarmos a mídia? Será? Acho que não dará certo. Acho que dará certo. Acho que nem é certo. Acho que... Parabéns para voce Fredy, por lembrar algo tã evidente, e tão fora de evidencia. Abraços Robson Lucas